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Sobre o Enem e a nossa saúde mental



Lá estava eu, procrastinando com meu celular na mão, olhando as mesmas coisas de sempre das minhas redes sociais, e mesmo assim me negando a largar o aparelho para ir produzir alguma coisa realmente produtiva. Mas enfim, até que esse momento de enrolação fez com que eu me deparasse com uma página de um cursinho online preparatório para o ENEM.
Pois é minha gente, já estamos em junho, e o Enem já está logo aí!
Pois bem, curiosa do jeito que sou, e como eu tinha uma pilha de coisas para fazer - mas as quais eu realmente não queria fazer -, decidi enrolar mais um pouquinho dando uma olhadinha nos comentários dos alunos desse cursinho. Primeiramente, minha reação foi rir ao perceber que todos pareciam bastante desesperados, mas depois ao relembrar toda a minha trajetória, engoli o riso arrependida.
O terceiro ano do ensino médio, ou esse período de cursinho pré-Enem ou pré-vestibular são fases bem difíceis, principalmente quando você ainda não sabe qual faculdade vai fazer. É pressão de todos os lados, da sua família que espera algo de você, dos seus professores, e daquela pessoa que você acabou de conhecer na rua e já solta um temido: “Já pensou em fazer medicina ou engenharia? Tem que fazer alguma coisa que dê dinheiro”.
Meu terceiro ano quase me enlouqueceu. Eu sabia bem aonde queria chegar, mas não tinha confiança de que conseguiria. Acontece que eu tinha que dar conta de todo o conteúdo da escola, mais o peso do estágio, os afazeres em casa e ainda estudar por horas extras se eu quisesse realmente ter um bom desempenho na prova do Enem. E eu queria, ás vezes só não sabia como fazer, e ficava realmente frustrada por isso.
Os finais de semana chegavam, e eu estava exausta, tudo o que conseguia desejar era a minha cama. Mas aí o sentimento de culpa ia de encontro comigo, e eu só ficava pensando que estudando tão pouco como eu estava, nunca conseguiria a minha vaga na federal. E lá eu ia perder as horas enfiada nos meus livros. Vocês acreditam que eu já cheguei a estudar por 14 horas, em um domingo?
Tamanha era a minha fissura, a minha culpa, que mais e mais eu abraçava os meus livros. Era feriado, horas livres, até madrugada para dar conta também das provas da escola ao mesmo tempo. E eu acabei me sentindo sobrecarregada, estressada, emotiva demais, e já não tinha concentração para nada. Não tinha concentração, mas mesmo assim insistia em ficar estudando, e depois chorava frustrada após perceber que não tinha conseguido fixar nenhum dos conteúdos que havia acabado de estudar.
Nesse ritmo, a ansiedade com a qual lido desde 2014 piorou consideravelmente. Percebendo isso, tentei reverter a situação. Na verdade, foi a minha mãe quem praticamente me obrigou a deixar os meus livros e a sair para me divertir mais, antes que “eu enlouquecesse”, como ela dizia. Mas o estrago no meu psicológico já havia sido feito, e mesmo que eu tenha mudado os meus hábitos – ainda me sentindo culpado por não estar estudando como deveria -, no final do ano eu continuava imersa em puro estresse, tanto que já em janeiro de 2017, tive que visitar um especialista para me ajudar com os meus problemas.
Parece não fazer muito sentido toda a minha história, mas é que eu vi muitas pessoas passarem pelo mesmo que eu passei, e sei que vou ver esse ano, várias outras pessoas chegarem no período pós-Enem transtornadas.
Ok, tudo bem. Talvez nossas histórias sejam bem diferentes, e talvez você não precise trabalhar e estudar ao mesmo tempo, e tenha a disponibilidade total para os estudos. Mas pense um pouco, o quanto você quer a sua vaga na faculdade, seja ela federal ou não? Muito, não é? E o quanto você tem se castigado por isso?
Esse momento é de grande importância para cada um de nós, e é um período de sofrimento por si só, não precisamos tornar isso ainda pior. Veja bem o meu exemplo, eu me sentia tão obrigada a estudar, que não entendia que precisava de um tempo para relaxar. E não era porque eu também trabalhava, é porque todos nós precisamos de uma folga de vez em quando, inclusive você que só estuda.
Não me entendam mal, por favor. Eu sempre serei a maior incentivadora dos estudos, e acho sim que vocês devem se dedicar para alcançar os seus objetivos, mas não ao ponto que isso denigra a saúde mental, que é algo tão importante.
Repense a forma como você tem levado o ritmo dos seus estudos, e se na sua rotina tem um tempo para o descanso. Não precisa ser muito, só um dia da semana, ou algumas horas de um dia, mas já vai fazer toda a diferença. E olha, é cientificamente comprovado que um descanso pode até melhorar o seu desempenho e a sua capacidade de concentração, pois evita que você fique sobrecarregado, assim como eu fiquei.
Então relaxem, vocês vão conseguir a vaga, vocês são esforçados, só não podem vacilar a ponto de precisarem de tratamento como eu preciso hoje. Seus estudos são extremamente importantes, mas todos precisamos aprender a conciliar isso com a nossa saúde mental, que acredite, apesar de ninguém tocar no assunto, é tão importante quanto.

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