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Desde que você se foi


Me parece engraçado, irônico, mas até injusto.... É que desde que você se foi - e desde que eu me acostumei com a sua ausência - parece que nada mais do que escrevo faz sentido, nada mais me agrada. Perdeu vida, sentimento, perdeu a cor. Para quem antes cavava um buraco no peito das pessoas, hoje já não consigo mais nem enfiar a pá na parte rasa.
No início não. No início doeu, sangrou, e eu sangrava em versos. O cheiro de sangue fresco vindo de um coração partido entorpecia e fazia qualquer um sangrar também. Eu rasguei a pele, cortei meus dedos nos cacos de vidro de todas as garrafas que me obriguei a beber, chutei e soquei todas as paredes possíveis, até não aguentar mais de dor e o corpo pedir por uma trégua.
E eu chorei por umas noites mais, até que as feridas do corpo –e da alma- começaram a se cicatrizar, e eu já podia ficar de pé sem vacilar.
O problema foi, na verdade, o quanto ficar bem me custou. Querer tirar você da minha vida, significou ter que parar de pensar em boa parte do que vivi. Significou ter que me refazer, de um jeito novo, para mim mesma, e não mais para os outros. Significou não ter mais inspiração quando fosse escrever algo novo. O que vai transmitir um coração, que agora, está vazio?
Não me restou nada além das amargas lembranças. Nem as piores músicas ou o melhor vinho conseguem me devolver o doce gosto de viver que você me apresentou.
Eu preferiria continuar vomitando por todas as noites por causa do mal no estômago que a sua falta me causava, do que passar noites em claro olhando para o nada esperando que saia uma frase sequer que faça sentido. Eu preferiria as lágrimas e o sentir muito do que esse vazio gelado e devastador que se instalou no meu peito. Eu preferiria ter razões para sofrer em alto e bom tom por você, do que hoje já não ter motivo nenhum, para nada – e mesmo que indiretamente, continuar sofrendo.
Eu poderia reafirmar mil vezes, a qualquer um que passasse por mim que ficar sem você sem dúvidas foi o melhor que poderia ter acontecido, mas uma voz ecoaria na minha cabeça e me castigaria dizendo uma verdade totalmente contrária a isso.
E qualquer um vê, qualquer um percebe, que quando passa por mim, não consigo deixar de te olhar. Não são mais borboletas que tenho no estômago, e sim facas me dilacerando. Estranho é pensar que perto ou longe, é capaz de fazer da minha vida um caos completo, apesar de que eu preferiria mil vezes mais aquela bagunça boa que me causava quando eu pensava em como conseguia me fazer ser tão sua, a essa bagunça amarga de não ser mais nada e nem de ninguém.
Eu sei que um dia vou superar, e que vou passar a caminhar para frente ao invés de ficar parada, não precisa tentar me dizer isso. Sei também que vou conhecer e me encantar pelo gosto de outras bocas, e me perder no meio de outras histórias. Todo mundo sabe que uma hora passa, e eu mesma tenho repetido isso diversas vezes. Mas mesmo assim, as feridas que me deixou são profundas demais e já não são mais tão recentes assim. E eu sei, que mesmo lá na frente, quando for olhar para trás mesmo que por poucos segundos, ainda vou sentir uma pontada no peito.
É aquela história que se repete: Têm pessoas que ficam por uma vida toda, mas não marcam por um dia sequer, enquanto outras só ficam conosco por breves momentos e marcam por uma vida toda.

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